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Medicamentos à base de cannabis devem acelerar expansão

Valor Econômico | Mônica Scaramuzzo | 27.12.2021

Dois anos após regulamentação, receita do segmento já pode atingir R$ 500 milhões em 2022.

Passados quase dois anos desde a regulamentação dos registros de medicamento à base de cannabis no Brasil, as indústrias que atuam no país encerraram este ano com oito produtos autorizados para comercialização em redes de farmácias e receita de R$ 229 milhões. A expectativa é que para 2022 as empresas do setor mais do que dobrem o faturamento, chegando a R$ 500 milhões, com pelo menos 15 novos produtos em análise pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

 

O mercado de cannabis medicinal tem ganhado força, não só pelo aumento de demanda por parte do consumidor, mas também com a maior adesão da classe médica na prescrição desses medicamentos.

E a tendência é de crescimento em 2022. A Anvisa tem 15 pedidos de análise de novos produtos, que deverão ser liberados nos próximos meses, afirma João Paulo Perfeito, gerente de medicamentos específicos da agência.

“Eu vejo esse segmento em expansão no país”, diz Perfeito. Segundo ele, o pedido da Hypera, no fim de novembro, para registro de um medicamento à base de cannabis no país dá um lastro ao setor e mostra que os grandes laboratórios nacionais também estão atentos a esse mercado. “Temos várias consultas de grandes companhias”, diz o técnico da Anvisa, sem citar nomes.

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A agência sanitária tem 34 solicitações acumuladas, o que pode crescer o pipeline de autorizações de novos medicamentos nos próximos meses. “Esse é um mercado que ainda tem um estigma muito grande, mas vemos que a classe médica têm aumentado a prescrição”, diz Tarso Araújo, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Canabinoides (BRCANN). A entidade conta com 20 associados.

Com o avanço da telemedicina, que se difundiu no país por conta da pandemia, pacientes dos Estados fora do eixo Centro-Sul passaram a ter acesso a esses medicamentos, observa Araújo. As regiões do Norte e Centro-Oeste do país tiveram forte aumento de demanda. “Hoje temos 50 mil pacientes autorizados a usar esses medicamentos.”

No Brasil, os os medicamentos à base de cannabis são vendidos sob prescrição médica e só podem ser importados por pessoas físicas. Com a aprovação da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 327/2019, em dezembro de 2019 e que entrou em vigor em março do ano passado, a Anvisa aprovou a regulamentação do registro de medicamentos à base de canabinoides e a venda dos produtos em farmácias. O cultivo da cannabis, contudo, é proibido. Os laboratórios que pretendem desenvolver o medicamento no Brasil têm de importar o insumo.

Medicamentos à base de cannabis têm sido prescritos globalmente para casos de Parkinson, Alzheimer, epilepsia, dor crônica entre outros males. Com a pandemia, cresceu também o número de prescrições para casos de depressão, ansiedade e insônia.

Araújo não vê, neste momento, uma explosão de pedidos de solicitações de farmacêuticas nacionais para produzirem canabinoides no país. “Interessa às empresas ter produção local, mas o custo é muito maior”, observa.

Atualmente, o laboratório paranaense Prati-Donaduzzi é a único que desenvolve medicamento sintético à base de cannabis no país. Outras duas empresas estão com pedidos em análise para produzir esse tipo de medicamento a partir dos insumos trazidos de fora.

O processo mais avançado é da Ease Labs, que aguarda a agência liberar a autorização para sua unidade em Minas Gerais. A companhia, que tem entre seus acionistas o fundo Next, da consultoria Alvarez & Marsal, está em expansão, afirma Gustavo Palhares, presidente e sócio do laboratório.

Segundo Palhares, a Ease Labs já tem um novo pedido de protocolado na Anvisa e deve submeter outros dois em fevereiro. “Há uma demanda ainda muito deprimida no Brasil.”

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Também na fila aguardando autorização para sua fábrica de Vargem Grande (Grande São Paulo), a GreenCare, com 85 funcionários, também vê esse mercado com forte expansão nos próximos anos. “Temos uma rede de 2,5 mil médicos que já prescrevem para os pacientes, um crescimento de 2,5 vezes sobre 2020”, diz Martim Mattos, CEO da companhia.

Com atuação no país desde 2015, com a importação de medicamentos, a HempMeds não tem interesse, por ora, de ter produção local, afirma Matheus Patelli, presidente da companhia. A empresa, subsidiária da americana Medical Marijuana, de capital aberto, diz que a empresa trabalha muito próxima as pacientes e aos médicos. “Estamos no Brasil desde 2015.

Procurada, a Hypera não comenta o assunto. A Prati-Donaduzzi não retornou os pedidos de entrevista.

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