15 mar Combustível, alimentos e gastos com saúde pressionam bolso das famílias paulistanas
Agora São Paulo | Luca Castilho | 14.03.2021
Reajuste da gasolina, alta dos planos de saúde e aumento da comida na pandemia explicam elevação da inflação na capital
O início do ano tem apresentado ainda mais desafios para os brasileiros. Entre janeiro e fevereiro de 2021, o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que mede a inflação para as famílias da cidade de São Paulo, mostrou que o combustível, e gastos com saúde e alimentação estão entre os itens que mais subiram de preço.
“Está muito difícil pagar as contas. Aumentou tudo. Cada vez que vou ao mercado, levo um susto. Não estou conseguindo arcar com todas as contas, então eu pago uma nesse mês e, infelizmente, preciso deixar a outra acumular para o próximo mês”, diz Marcia Araújo, 54 anos, professora na educação infantil.
Atualmente morando com o filho, de 32 anos, e a neta, de nove anos, a educadora precisou cancelar o antigo plano de saúde que pagava para sua família e contratar um mais barato.
“Estava pagando R$ 787 e foi para quase R$ 1.000. Foge completamente do meu orçamento. Agora eu fiz um novo porque não posso ficar sem, mas dessa vez no CNPJ do meu genro e vou pagar um pouco mais de R$ 400”, comenta.
O contrato com assistência médica aparece entre os principais itens que aumentaram no índice entre janeiro e fevereiro, com alta de 1,64%. “Em 2020, a ANS suspendeu o reajuste entre setembro e dezembro. Esses reajustes voltaram a valer a partir de janeiro, sendo que as operadoras aplicaram o que não foi aplicado, cobrando o retroativo do consumidor de forma parcelada”, explica Rafael Robba, advogado especialista em direito à saúde e sócio do escritório Vilhena Silva Advogados.
“Os percentuais tendem a ser até mais altos em 2021”, comenta Robba. Alguns aumentos de planos coletivos, segundo o Procon-SP, chegaram a 228%. Além disso, a fundação observou uma elevação expressiva com relação às demandas contra planos de saúde: foram 962 no primeiro mês de 2021, contra apenas nove no mesmo período de 2020.
No caso da alimentação, a alface foi recordista da lista, com uma alta de 16,40%, seguida da cebola, com aumento de 9,88%. “Em relação à alface, tivemos um ano afetado pelas questões da pandemia. Por ser uma cultura mais perecível e os produtores precisarem de muitos intermediários, eles acabaram tendo que reduzir o plantio. As questões climáticas também pesaram”, diz Marina Marangon, analista de mercado de hortifrúti do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.
Sobre a cebola, ela destaca que o fator climático foi preponderante. “A safra que está em comercialização atualmente é a do Sul, que foi prejudicado no período de plantio, enfrentou seca na fase de desenvolvimento da cebola e, no fim, as chuvas, algumas até de granizo, atrapalharam a colheita, completa.
Ainda entre os principais itens que aumentaram aparecem as carnes bovinas: acém, com elevação de 3,84%, e coxão mole, com alta de 3,79%, além da linguiça (+ 3,31%). Por outro lado, as carnes suínas e de aves têm uma tendência de baixa daqui para frente.
“A carne bovina segue subindo pela baixa oferta, mas suínos e aves estão voltando ao normal. Mas a alimentação, que subiu muito no ano passado, tem uma tendência de estabilidade e, algumas, até de queda”, ressalta Guilherme Moreira, coordenador do IPC, da Fipe.
Preços da gasolina e do etanol devem seguir em alta
Outra grande reclamação da professora Marcia Araújo é sobre o valor dos combustíveis. “Hoje compensa mais você deixar seu carro na garagem e ir para o trabalho a pé ou bicicleta”, diz.
A tendência, segundo Guilherme Moreira, é que os preços aumentem ainda mais. Apenas entre janeiro e fevereiro, a gasolina apresentou alta de 5,27% e o etanol de 4,28%.
“O que puxa os preços para cima é praticamente o combustível. Já antecipando março, a alta deve continuar”, comenta.
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