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Suspensão da venda da APS, do Grupo Amil, impacta mais de 300 mil beneficiários do plano de saúde

Jornal Nacional – Rede Globo | 10/02/2022 | Renata Vilhena Silva

Venda foi suspensa pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, que questiona a capacidade financeira dos novos sócios para garantir a sustentabilidade da operadora e o valor envolvido na operação.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) suspendeu a venda da APS, uma empresa do Grupo Amil. O negócio impacta mais de 300 mil beneficiários do plano de saúde.

A Heloísa Lima enfrenta uma batalha contra uma doença degenerativa e rara: a atrofia muscular espinhal (AME). O tratamento depende de exames feitos a cada três meses e da aplicação de um medicamento em hospital. Ela é segurada individual da Amil, no Rio, há 17 anos. Paga R$ 1,8 mil por mês. Mas desde o fim de 2021, diz que está cada vez mais difícil conseguir exames pelo plano.

“Entrei em contato com o laboratório que sempre faço, só que ele já estava descredenciado. Então recorri a outro laboratório, que também costumo fazer, e também estava descredenciado e também não poderia mandar atendimento domiciliar”, conta Heloísa.

A administradora de empresas Eva Guerrero também está com dificuldades na Amil. Ela mantém quatro pessoas da família no plano individual há 20 anos. E percebeu que a partir de outubro, laboratórios em São Paulo começaram a ser descredenciados.

“O exame que antigamente eu fazia, o check-up, em um dia, eu demoro quatro, cinco dias agora. Eu preciso ir várias vezes na mesma unidade porque não tem agendamento, ou tenho que ir em unidades distintas, porque uma faz uma coisa, outra faz outra”, relata Eva.

As queixas são dos segurados de planos individuais da Amil. São pelo menos 340 mil pessoas nos estados de São Paulo, do Rio e do Paraná. E coincidem com uma sequência de negócios cheios de detalhes.

A gigante americana do setor de saúde – UnitedHealth Group – é a proprietária da Amil e de uma outra seguradora de saúde com apenas 11 mil clientes, do interior de São Paulo; a APS.

Em dezembro de 2021, a United – que estuda sair do Brasil – repassou toda a sua carteira de planos individuais para a APS. A ANS autorizou essa transferência.

A carteira individual é considerada extremamente deficitária porque os reajustes de preços são limitados e controlados pela ANS. Ao contrário dos planos coletivos empresariais, bem mais rentáveis e reajustados por outros critérios.

Assista também: Clientes da Amil são prejudicados por cortes no atendimento

Em janeiro, uma nova tentativa de transação. Um grupo receberia R$ 3 bilhões da Amil para assumir os planos de saúde individuais e familiares que já estavam com a APS.

Ele é formado por três sócios: a empresa Seferin e Coelho; a Fiord Capital – uma gestora de investimentos criada em novembro do ano passado e liderada pelo sérvio naturalizado brasileiro Nikola Lukic – e uma pessoa física, Henning Von Koss.

Na quarta (9), a Agência Nacional de Saúde Suplementar decidiu impedir a Amil de fechar a venda para o grupo. A ANS proibiu que os atuais sócios da APS se retirem do quadro social da empresa e questionou a capacidade financeira dos novos sócios para garantir a sustentabilidade da operadora e o valor envolvido na operação.

“Nós não temos qualquer conhecimento desses grupos, nós não recebemos qualquer documentação até agora relacionada a esses investidores, razão pela qual a gente só pode se manifestar quando a gente conseguir avaliar todos os documentos que eles possivelmente apresentem”, afirma Paulo Rebello, diretor-presidente da ANS.

Representantes do grupo afirmam que têm experiência nas áreas de saúde e administração financeira. Mas especialistas em saúde suplementar dizem que esse negócio ainda precisa de muitas explicações. Afinal, o que está em jogo são as vidas e a saúde de 340 mil brasileiros – muitos deles idosos.

 

Advogada Renata Vilhena Silva

A advogada Renata Vilhena já representa clientes que estão entrando na Justiça contra a Amil. Elar diz que o grupo é desconhecido para assumir um negócio tão importante.

“Parece uma grande emboscada para os consumidores. Esse grupo dos idosos, dos planos individuais que têm reajuste controlado está indo para uma empresa que ninguém sabe quem é, não tem uma sede, não tem os funcionários e as pessoas ficam realmente muito inseguras”, destaca a advogada, especializada em direito da saúde.

De qualquer forma, a ANS reforça que a Amil não pode deixar os segurados com o atendimento prejudicado.

“Qualquer operação de rede, ele precisa fazer uma equivalência contratando o mesmo serviço para que os consumidores sejam atendidos. Então, isso eles precisam fazer e, o fazendo, têm que comunicar os seus beneficiários com antecedência mínima de 30 dias”, destaca Paulo Rebello.

 

A Amil declarou que não houve nenhum ajuste atípico na rede credenciada. Que todos os anos há mudanças na rede de hospitais, consultórios e laboratórios. E que seguiu rigorosamente as normas da ANS.

O UnitedHealth Group Brasil, dono da Amil, informou que, depois dos questionamentos da agência reguladora, está revisando o processo de compra e venda da APS.

Já o grupo que pretende comprar a APS afirmou que os sócios têm longa experiência no setor de saúde e na área financeira. Que considera o negócio viável financeiramente e que poderá trazer melhorias ao serviço prestado.

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