27 dez Retrospectiva 2017: um ano muito caro para o brasileiro e sua saúde
Um país ou povo só poderá viver em harmonia quando as desigualdades forem diminuídas, o lucro for justo e não prejudicar os direitos à cidadania, garantidos na Constituição.
Por: Renata Vilhena Silva
A frágil e, ao mesmo tempo, poderosa pasta da Saúde viveu dias conturbados. O ministro Ricardo Barros foi alvo de críticas o ano inteiro por suas falas inadequadas e envolvimento em suposta corrupção, no caso da Hemobrás, empresa que processa e produz hemoderivados. O Ministério Público, em Pernambuco, pediu seu afastamento cautelar e Barros foi submetido a um cateterismo, em novembro, depois de passar mal num evento.
As decisões judiciais quase não têm levado em conta as regulações da ANS, Agência Nacional de Saúde Suplementar, tamanho o seu descrédito e inoperância. Considerando os recursos repetitivos de abuso do consumidor ao completar 59 anos, o TJ deu ganho de causa aos que reclamaram.
No segundo semestre, mais notícias sobre fraude bilionárias em planos de saúde, que estariam forjando falsos empresariais, ganharam destaque. Amil e Bradesco estão sendo investigadas***.
Em votação na Comissão Especial da Câmara, a alteração da Lei dos Planos de Saúde (9.656/1998) representa um retrocesso porque, embora esteja revestida de propostas que parecem melhorá-la, como a cobertura de vacinas, nada mais é que outra tentativa de tentar burlar o Estatuto do Idoso, com margem para novos abusos. Ao sugerir o parcelamento do último reajuste, aos 59 anos, o deputado Rogério Marinho concedia às operadoras o direito de continuar imputando aumentos ao cliente, mesmo no último minuto antes dos 60 anos, o que geraria impacto tardio aos idosos. A medida foi tão criticada por operadores e órgãos de defesa do consumidor, que o deputado a retirou do texto em 29/11.
Outro item que está na pauta dessa mudança, é a obrigatoriedade da volta dos planos individuais. De nada adianta criar novos planos ou maquiar o acesso do idoso à saúde, se os valores cobrados são impraticáveis. A ANS não tem sido capaz de coibir os abusos das operadoras ao longo de sua existência e a saída não é a criação de leis, mas sim, a exigência rigorosa do cumprimento das que já existem e asseguram dignidade à população.
Quando políticos, e não técnicos, manobram para que leis sejam votadas em favor dos que financiaram suas campanhas, vivemos uma inversão total do sentido de governo, que deve atuar em benefício da maioria e do bem social. E, quando as operadoras não desempenham o seu papel socioeconômico ou não obedecem às leis, provocam uma sobrecarga no sistema público de saúde, já deficitário, que fica obrigado a acolher os que não têm onde se tratar ou cair mortos, literalmente.
Um país ou povo só poderá viver em harmonia quando as desigualdades forem diminuídas, o lucro for justo e não prejudicar os direitos à cidadania, garantidos na Constituição.
Este foi um ano de muita turbulência, mas de avanços na área da saúde. A aprovação de medicamento para tratar a rara AME (Atrofia Muscular Espinhal), que acomete crianças e adultos, foi uma vitória da batalha de pais e advogados para a sua liberação.
Desejamos que, em 2018, todos possam desfrutar de saúde e exercer a liberdade de escolha de novos líderes, realmente empenhados em fazer do Brasil um país condizente com sua grandeza territorial e humana. Embora os corruptos tenham deixado seus rastros, há muita gente ética trabalhando para a limpeza e reconstrução do nosso país, tenhamos esperança!
FELIZ ANO NOVO!
*Fonte: Instituto Estadual de Saúde Suplementar, IESS, setembro 2017.
**Fonte: Jornal Valor Econômico, 12 de junho de 2017.
***Fonte: Matéria da revista Exame, 30 de novembro de 2017.