A advogada Renata Vilhena Silva participa do maior encontro da oncologia mundial, o 52º Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO). Um dos assuntos apresentados foi o alto custo dos tratamentos e a preocupação dos pacientes com as dívidas. A advogada analisa que o modelo de pagamento do plano de saúde precisa ser revisto diante da crise que assola o setor.
Por: Renata Vilhena Silva
Desde que a crise brasileira se instalou e o índice de emprego caiu vertiginosamente, muitos romperam contratos com os planos de saúde, que também vêm sofrendo com a fuga de clientes. Some-se a isso, a situação de alguns pacientes com câncer ou doenças consideradas de alto custo que ficam expostas aos tratamentos e medicamentos caríssimos.
A revisão de modelos e regras na área da saúde não está restrita ao mercado nacional. O encontro da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, ASCO, que acontece em Chicago e termina hoje, está discutindo este ano o futuro do paciente. Para além dos cuidados, tratamentos e pesquisas, a grande preocupação de todos os envolvidos é o custo socioeconômico da doença. A Sociedade criou até um Guia de Orientação financeira para pacientes com câncer e seus familiares de como manejar os custos nos cuidados com a doença.
Pude assistir a palestras e examinar estudos que mostram a preocupação dos pacientes com as dívidas ou a financial toxicity, mais do que com as dores que sentem em decorrência do câncer. Uma série de pesquisas conduzidas por instituições de Nova York e Nova Jersey, apontou que pacientes com câncer têm duas vezes mais chances de se endividar e que 40% deles, em estado avançado da doença, se preocupam com as dívidas. Além disso, os jovens e os que têm seguro de saúde externaram maior preocupação.
Outros estudos conduzidos pelo Taussig Cancer Instiute, da Cleveland Clinic, relacionam exercícios físicos e vida saudável, antes e depois da doença, à melhora das condições clínicas e consequente redução de custos no tratamento.
Diminuir a carga das mensalidades e o ônus da doença é urgente. Precisamos encontrar saídas antes que o sistema colapse, doentes fiquem desassistidos ou planos sucumbam.
As dificuldades financeiras com o tratamento podem ser amenizadas com estilo de vida saudável (alimentação balanceada, perda de peso, prática de exercícios), que deve ser incentivada à exaustão. Um idoso atleta não deve pagar a mesma mensalidade que um idoso fumante e que faz uso habitual do álcool. Podemos estabelecer um paralelo com o seguro de automóveis, que recompensa os que não cometem infrações de trânsito e dirigem com prudência.
É justo que aquele que cuida de sua saúde seja recompensado e é injusto que, no momento de fragilidade física, a maior preocupação de um doente seja o dinheiro. Algumas operadoras já adotam o modelo de co-participação, em que o paciente faz uma autogestão de consultas, para evitar desperdícios. A ANS tem de instituir novas regras que obriguem os planos a ser razoáveis com seus clientes e, efetivamente, representem um fio de luz num túnel sombrio.
Convidado para uma conferência no encontro da ASCO 2016, o vice-presidente americano Joe Biden, que perdeu um filho vitimado pelo câncer no ano passado, concluiu: “Não há respostas fáceis, mas ninguém conhece melhor o problema e as soluções do que os aqui presentes. Nós não só precisamos que vocês deem continuidade aos seus estudos e desenvolvam suas incríveis capacidades, mas também necessitamos de ideias de como acelerar o processo”.
Renata Vilhena Silva, Advogada especialista em direito à saúde há mais de 15 anos, participa da ASCO 2016 na condição de Patient Advocate. renata@vilhenasilva.com.br