O Globo | Mariana Muniz e Pollyana Brêtas | 23/02/2022 | Rafael Robba Read more »

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Jota | Thaís Kechichian Alonso | 22/02/2022 Read more »
O Estado de S.Paulo | Julia Affonso | 21/02/2022
BRASÍLIA – A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão responsável por fiscalizar o setor de planos de saúde no País, funciona há quase dois anos com diretores substitutos mantidos no cargo acima do prazo legal. O arranjo garantiu ao atual presidente da agência, Paulo Rebello, acumular superpoderes. Advogado e ex-chefe de gabinete do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), Rebello controla hoje, além da própria presidência, duas das mais importantes diretorias da ANS.
Ambas responsáveis por processos como a venda bilionária da carteira de planos individuais da Amil, que atingem milhares de clientes. Rebello é hoje o único diretor titular. Outras três diretorias são ocupadas há quase dois anos pelos mesmos três servidores.
A legislação das agências reguladoras estabelece, contudo, limite de 180 dias para a permanência de um servidor como diretor substituto. A área jurídica da ANS produziu um parecer para abonar a violação dessa trava. A interpretação é contestada pelo Sinagências, entidade que representa os servidores de carreira dos órgãos reguladores.
Apelidada de “escravos de Jó”, uma referência à conhecida brincadeira de criança, a manobra consiste em, a cada 180 dias, alterar os nomes dos ex-diretores que esses servidores estão substituindo como se estivessem sempre numa nova suplência.
Trata-se de uma mera formalidade. Nesse jogo os servidores não mudam de posto na direção, e o que muda é o nome do ex-diretor que cada servidor está substituindo.
Em dezembro, o Senado aprovou dois nomes para diretoria da ANS. O presidente Jair Bolsonaro, contudo, ainda não os nomeou. Com isso, permite que a agência siga comandada por servidores substitutos e mantém a concentração de poder nas mãos do atual presidente do órgão.
A ANS tem cinco diretorias, além do cargo de diretor-presidente. Pelas regras, o chefe da agência acumulava o cargo com a Diretoria de Gestão (Diges), ligada à administração interna. Mas uma mudança no regimento interno feita dois dias após Paulo Rebello assumir o comando da ANS permitiu que ele trocasse o cargo burocrático pelo comando das duas diretorias mais poderosas do órgão regulador – Normas e Habilitação das Operadoras (Diope) e a outra, a de Normas e Habilitação dos Produtos (Dipro).
A Agência Nacional de Saúde Suplementar é o órgão regulador vinculado ao Ministério da Saúde responsável por normas, controle e fiscalização do setor de planos de saúde no Brasil. A sede fica no Rio de Janeiro. Foi fundada no ano 2000
O País tem hoje dez agências reguladoras, incluindo a ANS. De acordo com os portais de cada órgão, em nenhuma delas o diretor-presidente ocupa outra diretoria além da sua própria.
Em geral, as agências reguladoras são comandadas por conselheiros ou diretores que não detêm controle sobre áreas técnicas específicas. A ANS tem uma particularidade: cada diretor cuida de temas, como a diretoria que trata da habilitação de operadoras de planos de saúde, sob o comando do atual presidente da agência. Uma concentração de poder numa pessoa. É a ANS, por exemplo, que define reajuste de planos de saúde e multa operadoras por maus serviços.
Os cargos na cúpula da ANS são alvo de disputa política. Um dos motivos é que os parlamentares se interessam em ter alguém de sua confiança no comando de órgãos responsáveis por decisões impactantes e que envolvem cifras bilionárias.
Entre o fim de 2020 e dezembro do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro (PL) encaminhou 12 indicações ao Senado para compor a diretoria da ANS. Por pressão de senadores que apoiam seu governo, nomes entraram e saíram da lista nesse meio tempo.
O atual presidente Paulo Rebello é um exemplo. O nome dele foi retirado em 6 de julho do ano passado, no rastro das acusações de que o deputado Ricardo Barros estaria envolvido em um esquema de compra de vacinas para covid-19, feitas à CPI da Covid. No dia seguinte, porém, Bolsonaro recuou e mandou o nome de Rebello novamente. O deputado Barros nega o vínculo.
Das 12 tentativas de preencher as vagas na ANS, o atual governo nomeou apenas dois diretores-presidentes em sequência. Outros dois indicados foram aprovados pelo Senado, mas não foram nomeados por Bolsonaro. E dois nomes para diretoria aguardam análise dos senadores há quase três meses.
Em dezembro, o Senado aprovou os nomes da defensora pública estadual aposentada Eliane de Castro Medeiros e do diretor substituto de fiscalização da ANS, Mauricio Nunes da Silva, para assumir mandatos de cinco anos. Ela seria indicação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG); ele, de Barros. Os dois negam o apadrinhamento.
A defensora pública disse que soube da vaga na direção da ANS “no boca a boca de amigos, e mandei currículo”, disse ao Estadão. “Eu busco uma adrenalina. Como eu não tenho coragem de pular de paraquedas, fazer viagem de cruzeiro, a minha adrenalina é me habilitar para alguns projetos.” Nome também aprovado pelo Senado em dezembro, Mauricio Nunes é diretor substituto desde maio de 2020.
Em nota, a ANS sustenta que o rodízio entre os integrantes da lista de substituição é determinado pela lei, “a qual também estabelece a impossibilidade de o mesmo diretor-substituto ocupar o mesmo cargo por um período de 180 dias”.
Para o economista Arthur Barrionuevo Filho, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) nas áreas de concorrência e regulação, ter uma diretoria formada por substitutos no comando de uma agência reguladora, por tanto tempo, “burla o espírito da legislação, que era evitar que a mesma pessoa fique indefinidamente ocupando espaço na diretoria sem ter sido nomeada para tal”.
Ele afirma ainda que o mandato da diretoria foi criado para garantir liberdade para decidir contra ou a favor de quaisquer interesses. “Quando você pega alguém que é provisório, esse alguém não tem essa garantia. Ele tem uma garantia provisória. Isso pode tornar essas pessoas mais suscetíveis a pressões.”
Para validar a permanência de diretores substitutos no comando da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) por quase dois anos, a direção do órgão regulador recorreu a um parecer da Advocacia Geral da União (AGU). O documento elaborado pela AGU admite que foi preciso buscar uma “interpretação da lei” das agências reguladoras para permitir que o prazo de 180 dias de interinidade fosse estendido.
A regra foi elaborada justamente para impedir que a mesma pessoa fique ocupando indefinidamente o cargo sem que tenha passado por sabatina no Senado e nomeada pelo presidente da República.
Em nota, a ANS afirmou que “segue estritamente o que determina a legislação no processo de nomeação e substituição da diretoria”. “Os servidores que integram a atual lista de substituição da diretoria colegiada são altamente capacitados e foram designados para os cargos vagos pelo Presidente, atuando, tanto quanto um Diretor ‘titular’ nos processos submetidos à Diretoria Colegiada e observando todos os processos estabelecidos pelo regimento interno da agência e pelos normativos legais vigentes. Todos os trabalhos da agência vêm sendo desenvolvidos normalmente, sem prejuízo ao funcionamento da reguladora.”
O parecer da AGU foi encomendado em setembro de 2020, próximo ao fim dos primeiros seis meses de interinidade de um dos servidores substitutos. “Embora a situação não tenha sido prevista expressamente pelo legislador, é preciso buscar uma interpretação que assegure a maior efetividade à continuidade do serviço público e à capacidade decisória da agência, desde que a interpretação se mantenha dentro dos limites do texto legal”, justificou a AGU.
No entendimento dela, “o legislador não tratou expressamente da situação quando um substituto atingir o prazo máximo de 180 dias de substituição do cargo e os demais integrantes da lista já estejam exercendo a substituição em decorrência da vacância de outros dois cargos.” O que deu margem para a interpretação.
O parecer da AGU que vem sendo usado pela ANS para manter no cargo os diretores substitutos incluem duas tabelas que deixam claro o troca-troca na lista de substituição forjada pela agência. As tabelas indicam, por exemplo, que o servidor Bruno Martins foi convocado em 17 de março de 2020 para assumir o posto de diretor com a saída do ex-diretor Leandro Fonseca. Em 14 de setembro de 2020, seis meses depois, o mesmo Bruno aparece como substituto de outro diretor que também tinha deixado a ANS.
O Sinagências (sindicatos dos servidores das agências) questionou a interpretação da lei. “O descaso pela lei tem permitido graves irregularidades e ilegalidades.” A entidade afirmou que a manobra “fere o princípio basilar das agências nacionais de regulação: a independência técnica, financeira e política, devendo suas diretorias serem constituídas de forma colegiada, com mandatos fixos e não coincidentes”. “A cada nova vacância ou a cada ciclo de 180 dias de interinidade, nova lista de substituição deveria ser enviada para designação do Presidente, excluindo da lista aquele que já exerceu a interinidade, adicionando um novo servidor substituto a ela.” Procuradas, a Presidência e a Casa Civil não se manifestaram.
O Globo | Glaude Cavalcanti | 17/02/2022 Read more »
Istoé Dinheiro | 16/02/2022 Read more »
UOL | Henquique Santiado | 15/02/2022 | Rafael Robba Read more »
Jota | 09/02/2022 | Rafael Robba Read more »
Estadão | Izael Pereira, Iander Porcella, Daniel Weterman e Júlia Marques | 10/02/2022 | Rafael Robba Read more »
Jornal Nacional – Rede Globo | 10/02/2022 | Renata Vilhena Silva
Venda foi suspensa pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, que questiona a capacidade financeira dos novos sócios para garantir a sustentabilidade da operadora e o valor envolvido na operação.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) suspendeu a venda da APS, uma empresa do Grupo Amil. O negócio impacta mais de 300 mil beneficiários do plano de saúde.
A Heloísa Lima enfrenta uma batalha contra uma doença degenerativa e rara: a atrofia muscular espinhal (AME). O tratamento depende de exames feitos a cada três meses e da aplicação de um medicamento em hospital. Ela é segurada individual da Amil, no Rio, há 17 anos. Paga R$ 1,8 mil por mês. Mas desde o fim de 2021, diz que está cada vez mais difícil conseguir exames pelo plano.
“Entrei em contato com o laboratório que sempre faço, só que ele já estava descredenciado. Então recorri a outro laboratório, que também costumo fazer, e também estava descredenciado e também não poderia mandar atendimento domiciliar”, conta Heloísa.
A administradora de empresas Eva Guerrero também está com dificuldades na Amil. Ela mantém quatro pessoas da família no plano individual há 20 anos. E percebeu que a partir de outubro, laboratórios em São Paulo começaram a ser descredenciados.
“O exame que antigamente eu fazia, o check-up, em um dia, eu demoro quatro, cinco dias agora. Eu preciso ir várias vezes na mesma unidade porque não tem agendamento, ou tenho que ir em unidades distintas, porque uma faz uma coisa, outra faz outra”, relata Eva.
As queixas são dos segurados de planos individuais da Amil. São pelo menos 340 mil pessoas nos estados de São Paulo, do Rio e do Paraná. E coincidem com uma sequência de negócios cheios de detalhes.
A gigante americana do setor de saúde – UnitedHealth Group – é a proprietária da Amil e de uma outra seguradora de saúde com apenas 11 mil clientes, do interior de São Paulo; a APS.
Em dezembro de 2021, a United – que estuda sair do Brasil – repassou toda a sua carteira de planos individuais para a APS. A ANS autorizou essa transferência.
A carteira individual é considerada extremamente deficitária porque os reajustes de preços são limitados e controlados pela ANS. Ao contrário dos planos coletivos empresariais, bem mais rentáveis e reajustados por outros critérios.
Em janeiro, uma nova tentativa de transação. Um grupo receberia R$ 3 bilhões da Amil para assumir os planos de saúde individuais e familiares que já estavam com a APS.
Ele é formado por três sócios: a empresa Seferin e Coelho; a Fiord Capital – uma gestora de investimentos criada em novembro do ano passado e liderada pelo sérvio naturalizado brasileiro Nikola Lukic – e uma pessoa física, Henning Von Koss.
Na quarta (9), a Agência Nacional de Saúde Suplementar decidiu impedir a Amil de fechar a venda para o grupo. A ANS proibiu que os atuais sócios da APS se retirem do quadro social da empresa e questionou a capacidade financeira dos novos sócios para garantir a sustentabilidade da operadora e o valor envolvido na operação.
“Nós não temos qualquer conhecimento desses grupos, nós não recebemos qualquer documentação até agora relacionada a esses investidores, razão pela qual a gente só pode se manifestar quando a gente conseguir avaliar todos os documentos que eles possivelmente apresentem”, afirma Paulo Rebello, diretor-presidente da ANS.
Representantes do grupo afirmam que têm experiência nas áreas de saúde e administração financeira. Mas especialistas em saúde suplementar dizem que esse negócio ainda precisa de muitas explicações. Afinal, o que está em jogo são as vidas e a saúde de 340 mil brasileiros – muitos deles idosos.
Advogada Renata Vilhena Silva
A advogada Renata Vilhena já representa clientes que estão entrando na Justiça contra a Amil. Elar diz que o grupo é desconhecido para assumir um negócio tão importante.
“Parece uma grande emboscada para os consumidores. Esse grupo dos idosos, dos planos individuais que têm reajuste controlado está indo para uma empresa que ninguém sabe quem é, não tem uma sede, não tem os funcionários e as pessoas ficam realmente muito inseguras”, destaca a advogada, especializada em direito da saúde.
De qualquer forma, a ANS reforça que a Amil não pode deixar os segurados com o atendimento prejudicado.
“Qualquer operação de rede, ele precisa fazer uma equivalência contratando o mesmo serviço para que os consumidores sejam atendidos. Então, isso eles precisam fazer e, o fazendo, têm que comunicar os seus beneficiários com antecedência mínima de 30 dias”, destaca Paulo Rebello.
A Amil declarou que não houve nenhum ajuste atípico na rede credenciada. Que todos os anos há mudanças na rede de hospitais, consultórios e laboratórios. E que seguiu rigorosamente as normas da ANS.
O UnitedHealth Group Brasil, dono da Amil, informou que, depois dos questionamentos da agência reguladora, está revisando o processo de compra e venda da APS.
Já o grupo que pretende comprar a APS afirmou que os sócios têm longa experiência no setor de saúde e na área financeira. Que considera o negócio viável financeiramente e que poderá trazer melhorias ao serviço prestado.
Exame | Mariana Desidério | 09/02/2022 | Rafael Robba Read more »